Caminhos de lama

 Os caminhos de lama não nos sujam, mas prendem-nos como ventosas a um útero térreo.

Como se fossemos engolidos por mil vaginas moles, vaginas escuras, vaginas amareladas, tufosas e ou depiladas...

esta noite resvalei em lama num caminho por onde não queria ir

senti que me enterrava que a onda eminente me podia levar e eu não consegui sair


esta noite perdi-me nos bibelôs da minha mãe algures na casa da minha avó

havia aquela voz proeminente que me feria o cérebro

havia uma vontade de fugir de seguir o meu caminho

de procurar a minha luz


e depois aparecias tu, deformada no corpo

deformada na alma, uma alma envenenada de açúcar e de tormentos

possuída pela falta de vontade de crescer

procuravas confundida o corpo do pai e da mãe

para voltares a não ser

e eu puxava-te para um caminho

e eu puxava-te para longe dos petit gateau húmidos e putrefactos

para longe das lama-vulvas prontas a engolir-te


os caminhos de lama não me sujam, sugam-me.



Lúcia Cunha





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