meandros secos do vazio

passam por mim sons e cores
e anestesio-me em qualquer parte do corpo
para não perceber sobre que partes da vida
fazem ainda parte da realidade
parecem-me ainda apenas
penas mimetizadas
e plumas sóbrias de um jogo perverso dos sentidos
sobram sobre mim
e sobre os meus ouvidos
as sombras das porções de vida
são só células poligonais
figuras geométricas
luzes abstractas da matemática incompreensível
da frase gramática perecível

saber que findam
e são infindáveis os fins
dos finais das vidas

fico sem saber a finalidade
dos meandros do rio seco da minha
vida sem fio
sem meada
em que já não me rio de nada

passam por mim as horas
sem lugar permanente
parece tudo igual
perece tudo de modo diferente

se plantaste tão bem a vida
tu que de plantas tão sabiamente sabias
ceifaste por fim a ceara
que de seca adivinhaste a dor

e passam por mim sons e cores
e anestesio-me em qualquer parte, dor me resta,
sem saber o significado
agora que caminho sozinha
garrano encurralado
pousio abandonado

passam por mim as palavras
de vazios pejadas
no abafado quente sequio
e do seco sequeiro de amadurecer tardio

L.C.






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