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A mostrar mensagens de maio, 2020

invocação sem hierarquia

se me redimo-me porém sem culpa que seja antes uma rendição sem contudo haver perda e procuro de novo ensinamentos ainda que seja nas cearas sabendo porém que não virá de longe o que escuto e o que falas dentro de mim porém escuto-te e paro por instantes o ruído fala-me sobre as palavras fala-me sobre as gramíneas e as papoilas fala-me de novo força onde a força me falha dá-me a luz onde o escuro me esquece fala-me de novo na boca das palavras do vento sem que me tenhas submissa ao ausência do aconselhamento sem que sejas vertical, ascendente fala-me de novo como se fizesses parte em mim paralelamente a todas as coisas e o todo fossemos um faz-me ver o propósito verdadeiro, objectivo uno único e derradeiro e primeiro aquele em que no todo no integramos, entregamos e no todo nos aquecemos sem que de todo nos esquecemos nem fiquemos desaparecidos... Mas e se um dia como uma espécie de socorro gritasses "estás aí" Sabendo porém que não tens...

e se só tivesse sido

E se só ouvisse contar como se fosse uma estória longe de qualquer coisa longe de mim, daquelas que nunca acontecem de verdade aqui perto de nós? E se estivéssemos há séculos adormecidas como estão as lajes negras e as fragas vivas esquecidas dentro de mim? estou convicta a seguir comigo entre mim recuso-me determinantemente a proferir suspiros ou sustos acomento-me ao e em silêncio, cética e convicta da ausência de vozes. se ao menos sussurrassem algures as fragas gastas e negras... L.C.

meandros secos do vazio

passam por mim sons e cores e anestesio-me em qualquer parte do corpo para não perceber sobre que partes da vida fazem ainda parte da realidade parecem-me ainda apenas penas mimetizadas e plumas sóbrias de um jogo perverso dos sentidos sobram sobre mim e sobre os meus ouvidos as sombras das porções de vida são só células poligonais figuras geométricas luzes abstractas da matemática incompreensível da frase gramática perecível saber que findam e são infindáveis os fins dos finais das vidas fico sem saber a finalidade dos meandros do rio seco da minha vida sem fio sem meada em que já não me rio de nada passam por mim as horas sem lugar permanente parece tudo igual perece tudo de modo diferente se plantaste tão bem a vida tu que de plantas tão sabiamente sabias ceifaste por fim a ceara que de seca adivinhaste a dor e passam por mim sons e cores e anestesio-me em qualquer parte, dor me resta, sem saber o significado agora que caminho sozinha garrano e...

húmus

Ficou tão ténue tudo o que me separa da bestialidade do animal saiu-me da pele aos urros sem se deter com sensibilidades vocifera em lama lodo sangue e bosta e merda foi-se qualquer gentiliza e sensibilidade e só restou no âmago de tudo uma colossal, fabulosa caganeira rompeu-se o que ainda restava do esperançoso desejo de que soassem ainda sentimentos nobres mas no final restou apenas a besta besuntada de lama tudo é carne putrefacta e fétida não sei quando nascerão de novo palavras sobre o húmus podre mas por enquanto sob uma vontade enorme de pranto as carnes podres infectas da besta  mefítica L.C.